sexta-feira, 2 de março de 2012

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Hoje eu vi uma coisa muito esquisita.



Postado por Daniel Villar, às 02:54

São quase três da manhã e eu ainda estou aqui sentado na frente desse PC trabalhando. Tenho cinco sites pra entregar até depois de amanhã e agora, depois que meu sócio se casou, a maioria dos trabalhos pendentes tem ficado em minhas mãos. Estou exausto e morrendo de dor de cabeça, mas o caso é que se eu não entregar esses trabalhos no prazo, ninguém irá fazê-lo por mim. A grande sorte é que estou sem sono nenhum. Bem, depois do que vi hoje à tarde indo pra padaria qualquer um perderia o sono. Preferia não ter saído de casa se tivesse opção, além do calor infernal dos últimos tempos, incomum pra essa época do ano, o caso é que não sou muito de sair de casa mesmo, sou mais do tipo que prefere lidar consigo mesmo do que com os outros, é muito mais fácil. Decidi pegar um caminho diferente pra padaria hoje, menos movimentado do que aquela maldita avenida principal, li não sei onde que fazer isso é uma técnica legal pra variar um pouco a rotina, por mais que a minha seja ficar aqui, trabalhando quase que ininterruptamente nessas artes. Mas voltando a falar sobre a coisa muito bizarra que vi hoje à tarde já bem perto da padaria. Fujo de discussões, brigas, desentendimentos, mas dessa vez não tive como. Subindo a rua ouvi uma discussão, inicialmente devido ao som dos carros passando não consegui distinguir do que se tratava, mas foi só dar mais alguns passos e pude ver dois caras, um senhor grisalho, aparentando uns sessenta, sessenta e poucos e o outro, um rapaz por volta dos seus trinta anos discutindo muito, bastante alterados. Embora como eu disse, isso me gera um desconforto absurdo, como os dois estavam do outro lado da calçada eu decidi prosseguir, imaginando se tratar de uma briga de trânsito ou até mesmo algo a ver com a obra, já que o rapaz mais novo, pelos trajes era um dos pedreiros de lá. Todavia quando cheguei mais a frente, pude ver que o rapaz segurava na coleira, inclusive a base de muito esforço, um cachorro furioso, bastante furioso aliás, pra um bicho tão magro e com um aspecto tão fraco, parecia desnutrido ou algo assim, mas mesmo assim eu via o rapaz ao mesmo tempo em que discutia com o velho, tentando conter o animal na coleira com as duas mãos. Imaginei que, como sempre acontece, o cão, que devia pertencer ao pedreiro, deve ter avançado no velho e ele agora estava a tomar satisfação com o dono do animal, mas reparando melhor na cena vi que não foi isso o que aconteceu. Na esquina mais a frente estavam uma meia dúzia de moleques curiosos e alguma coisa sem forma no chão, pelo menos num primeiro momento. Sem me dar conta comecei a atravessar a rua, já ignorando a discussão dos dois, indo pra esquina da frente onde estavam os garotos e a coisa esquisita no chão. Finalmente subi na guia da outra calçada e o que eu vi fez minhas pernas amolecerem: o que estava ali no chão e que de longe parecia só um amontoado de algo irreconhecível era outro cão. No estado em que ele estava não dava pra sabe direito, mas aparentemente ele era maior do que o outro, preso na coleira e contido pelo pedreiro. Os garotos olhavam curiosos, enojados e comentavam, também não era pra menos. O cão havia sido atropelado? Ele não estava só rasgado, estava em pedaços, dilacerado a mordidas. Um mal estar me subiu na hora. Parte da cabeça dele estava faltando, deixando a mostra parte do crânio e cérebro, vísceras expostas, ossos saltando. Me virei pra os dois caras mais atrás e vi que eles ainda discutiam, olhei pro cão na coleira e aí sim notei melhor os detalhes, ele estava todo cheio de sangue também, mas não ferido, tinha carne pendurada entre os dentes que pingavam sangue, mas não eram dele. De repente, sabem quando a gente tem aquele lampejo? Quando percebemos as coisas que já estavam bem na nossa cara? Pois é. O cão preso na coleira havia atacado o outro, não só atacado, despedaçado. Olhando pros restos do cachorro no chão e pro outro animal na coleira eu senti um frio na espinha que nunca tinha sentido antes. Como pôde um animal aparentemente tão fraco atacar o outro dessa forma? Como pode deixar os restos nesse estado? E o pior, não pareciam só mordidas e feridas, ele parecia ter sido parcialmente devorado pelo outro. Faltavam pedaços dele que não estavam espalhados em canto nenhum da calçada, que parecia pintada com tinta vermelha. Pelo que pude entender da discussão, porque depois de perceber tudo aquilo eu realmente não queria ficar mais ali, o cachorro atacado era do velho, que agora urrava furioso com o outro, exigindo uma compensação, o sacrifício do outro animal ou coisa assim. Quanto a mim, eu não tinha mais nada o que fazer ali, nunca tinha visto um cachorro morto daquela forma e o meu estômago parecia querer sair pela boca. Nem preciso dizer que não fui mais a padaria, dei meia volta e tomei o rumo de casa. Como poderia comer com aquela cena na cabeça. Enquanto caminhava de volta olhei mais uma vez pra traz pra ver em que pé estava a discussão e por uns segundos pude ver bem os olhos do cachorro na coleira, furioso e ainda tentando se libertar. Pode ter sido o reflexo do sol, sei lá, mas juro que os vi vermelhos, parecendo dois globos cheios de sangue e mais nada. Três e trinta e eu ainda aqui. Só mais cinco minutos de trabalho e eu acho que vou encerrar por hoje. Lembrar daquele cachorro me deu náuseas novamente.

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